21 abril 2014

Sentidos




    Capítulo II

Enterro

  ´´ Neste mundo, há coisas que você não pode recuperar, não importa o quanto se esforce. ``


     Passos leves de salto fino preto, sobre a escada de piso bege. Vestido longo  com detalhes de renda preta, cabelos ondulados vermelhos caiam até a cintura como sangue. Olhos azuis a centímetros do branco.
       A mulher subiu as escadas até parar em frente a porta bege clara de madeira maciça. Segurando firme com uma das mãos uma bandeja com o desjejum, gira a maçaneta prata abrindo calmamente a mesma. Adentrou o quarto grande vendo a figura na cama a olhar sentada.
     - Bom dia. – solta indo perto da mesma. – A quarto tempo está acordada? – perguntou colocando a bandeja de madeira com o café da manhã sobre a cama.
      - Não faz muito tempo. – mentiu.
     - Hm .... Coma seu desjejum e vista-se, logo o carro chegará para nós levar. – soltou seca.
     A menina se assustou levemente, não tinha percebido esse tom na noite passada da parte da mais velha.
     - Katriny vira pegar a bandeja e trará suas roupas. – disse já saindo do quarto deixando somente a rosinha.
         Tomou coragem, limpou uma lagrima que teimou rolar por seu rosto e pegou uma torrada, a qual desceu rasgando sua garganta, tomou o suco fazendo uma leve careta. Assustou novamente quando a porta se abriu e a empregada entrou. Calada colocou a roupa, um vestido preto, luvas, véu e sapado sobre a cama. Parou em frente a ela por alguns minutos até que a pequeno terminasse de comer.
       - Venha banhar-se senhora Kirino. – soltou dando a entender que era para a rosa a seguir. Foi o que fez.
         Entraram no banheiro grande, todo branco,com apenas alguns detalhes prata e dourado. A banheira já estava cheia e o ar quente da água limpava seus pulmões.
        - Vai ficar me olhando? – perguntou a rosa.
        - Se preferir posso me retirar. – respondeu calma.
        - Prefiro. Quero ficar uma pouco sozinha.
        - Como quiser. – soltou seguindo para a porta.
          Respirou fundo e retirou suas roupas lentamente. Caminhou até a banheira e  entrou. Temperatura perfeita. Ficou lá o tempo necessário para aliviar a cabeça, ao sair a mulher ainda a espera no quarto. Se trocou e desceu ao encontro da ruiva que já a esperava.
        Não disseram nada, apenas entraram no carro que as esperava e seguiram para o local do entrerro.
       Como Inazuma era cidade natal de seus pais, os corpos foram trazidos para lá.
         Quando o carro parou no destino final não havia como saírem do carro. Uma multidão se aglomerava para dar suas condolências aos familiares e a pequena órfã.
          Caminharam com dificuldade recebendo abraços e palavras de consolo, até conseguirem  adentrar o local onde os caixões estavam. Lacrados por conseqüência da gravidade do acidente a menina apenas encarava as tampas de madeira decoradas, com flores. Seu coração doía tanto, sentia um nó na garganta. Queria gritar. Reparava sobre si os olhos repletos de pena e piedade. Fechou os punhos. Piedade e pena eram os sentimentos que ela mais odiava.
         Desviou os olhos para a multidão e depois os jogou no chão branco.
         Passaram algum tempo lá até que a despedida chegou. Caminhavam para o sepulcro silenciosamente. Ao chegarem a pequena não ousou levantar os olhos, apenas ouvia a voz de um senhor, talvez um padre que chamaram, dizendo o quão bons tinham sido seus pais, que as lembranças de tudo que eles fizeram sempre estaria em suas memórias e etc.
         Assustou quando alguns homens começaram a levantar os caixões e os depositarem na cova comprada pela família. Ali estavam seus avos e agora estariam seus amados pais e sua irmã. Abriu a boquinha esbranquiçada mais nada saiu. Respirava pesadamente vendo aos poucos fecharem com tijolos e cimento a sepultura e quando em fim estava fechada gotas começaram a cair, forçando assim a multidão se dissipar.
         Ficou ali sentindo as gotas descerem por seu corpo e levarem com elas até o chão toda esperança que tinha. Estava só? Quem ficaria ao seu lado agora?







       Entraram no carro com a chuva ainda caindo. Seguiram em silêncio como haviam vindo, no fundo a rosa não sabia ao certo mais desconfiava das intenções da tia tão prestativa ao seu lado. Sentia que agora não teria mais ninguém para contar suas mágoas e sofreria as armadilhas do mundo sem ninguém para a ajudar a levantar.
     Com a morte de seus pai ela deveria assumir toda a herança da família, mas a tia já havia entrado com os papeis para conseguir a guarda da pequena. Então não teria nada do que seus pais haviam lutado toda a vida. Mesmo pequena entendia muito bem as intenções da tia, mais o que poderia fazer?
      Chegaram na casa e foi mandada direto para o quarto. O fez de bom agrado, não conseguiria ficar mais um minuto com uma criatura tão falsa como aquela ruiva. Entrou e começou a retirar as roupas encharcadas seguindo para o banheiro novamente. Esperou a banheira estar cheia e entrou. Afundou o corpo gelado na água quente e começou a chorar. Tentou se recompor ao ouvir a porta se abrir.
       - Senhora Kirino? – a voz feminina tomou o ambiente. – Está tudo bem? ­ - perguntou fechando a porta e se dirigindo para onde a rosa estava.
       - Não! Não está nada bem – gritou olhando para o nada. – Não entendo por que isso teve de acontecer. Por que não estava junto? Deveria ter morrido também. Assim poupava tia Kaetly de me adotar e fingir se importar comigo ou atém mesmo ter todo o trabalho que via ter para conseguir a fortuna dos meus pais. Eu .... eu ... eu .... – falou começando a chorar mais ferozmente.
        - Oh minha pequena. – falou a mulher aconchegando a pequena nos braços. – Você não estará sozinha. Estarei aqui para a acolher. – disse serena acariciando a rosa. – Sabe... você me lembra um jovem mestre que tive a alguns meses atrás. – começou a mulher. – Seus pais viajam muito para o exterior e ele acaba passando a maior parte do tempo sozinho. Algumas vezes o pegava se fazendo algumas perguntas semelhantes a suas.
         - M-mas é ... diferente. Ele .. ele ainda tem seus pais. – soltou chorosa.
         - Não minha criança. Pior que perder seus pais para a morte é tê-los vivos e ausentes. – soltou um sorriso leve. – Talvez demore um pouco para que entenda isso.


           Ficaram ali por mais alguns minutos até que a mulher tivesse certeza que a menor estava mais calma. Saíram, trocou a menor e a depositou na cama.
      - Descanse um pouco mais, pequena.Tenho certeza que quando acordar se sentirá melhor. – falou calma cobrindo a pequena.
       - Obrigada. – disse baixo.
        A mulher apenas sorriu, beijou sua testa e caminhou até a porta.
       -Descanse. – disse apagando a luz e fechando a porta.

      Lá no escuro do quarto a rosa ainda podia ouvir os respingos da chuva agora calma na janela. Respirou fundo olhando para o teto, se sentia melhor sabendo que teria alguém ao seu lado. Aliviada deixou que o sono aos poucos a possuísse.












 Continua ......

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